sigNature
Dança de Roda (ou a Inauguração do Mundo)
Como se uma discreta passagem se abrisse ao toque, remota, envolta em crença crepuscular, incorpórea e ainda assim acessível
aos sentidos uma realidade plena ao degustar da razão, ao olfacto da possibilidade, à música da profanação invisivel, à doce miragem da compulsiva fábula, ora distante, ora negada
no medo disputada no dormente silêncio entre as dimensões.
Na prevista volta do planeta uma pristina luminosidade por sobre as lagoas
um outro peso no passo pequeno, ainda assim um passo outro
nessa revolta calculada das palavras colocadas no desdobrar das mãos pousa uma dúvida por vender, uma dívida desacesa, uma submissa colaboração com a brusca motivação das horas, com o movimento fotometrico da involuntariedade
abre-se uma natureza calada - satisfeita na impossibilidade da canção.
O cosmos decide a melodia, o corpo o compasso
e entramos na roda ao mesmo tempo.
bulk
E assim, em grande jeito saramagiano, todos e todas acordaram um dia, um dia banal dos idos da primavera, e deixaram de escrever nos seus blogues.
Esqueciam-se sistemáticamente de postar: abriam o browser, percorriam os favoritos, olhavam demoradamente para o link onde durante meses e anos travaram batalhas poéticas e actuaram em psicodramas estéticos e...nada. Abriram antes conta no facebook onde continuaram a vidinha virtual de quem não tem tempo, alas! de fingir uma vida real. Perdas para a humanidade e arquivos mortos de efeitos dominó de peer pressure. Outros e outras houve, na sua teimosia, que se abstiveram. Deles e delas não reza a história de milhares de historietas parciais que em formato comentário se vão esfregando umas nas outras aquelas horas mortas de quem não tem tempo, alas! para envivecer as horas moribundas em tardes de café, ou noites de esplanada, ou páginas avulsas de livros que, sabemos bem através das pessoas que raramente lêem, estão caros.
Em jeito de Frears, ou Greenaway, ou também Saramago, que me acompanham nestas coisas de maluquinhos-das-listas, riposto com uma colecção revisitada das "coisas" deste verão, repetidas ou irrepetíveis, estreias e deja-vus, conquistas e maquinações e inevitáveis perdas:
1. O choco frito de Sines, sardinhas a monte e feijoada de buzinas, interlúdio para francesinha e rodízio de pizzas, encontro imediato com noodles tailandeses e porco no espeto
2. Sunset em vários sítios do país, sozinha e/ou com amigos, com vista para o mar.
3. Beach parties e mergulhos na água salgada.
4. Red Bull, Guaraná em pó, vinho alentejano e a querida bejeca cada vez mais cara. oceanos de água doce a afogar a eterna sede. e o púcaro, o meu querido púcaro de aluminio.
5. Encontros e desencontros de longo prazo de amigos e camaradas: saudades que sei e outras que não sabia que tinha tanto.
6. muita sorte e algum juizo.
7. o meu fiel carrinho, que apesar de vetusto me levou e me abrigou e me trouxe de volta sã e salva.
8. sexo debaixo das estrelas na perdida estradinha do campo.
9. Música, muita música, nova e velha.
10. Gatos, cães, pardelas, gaivotas e uma estrela do mar.
kindness always (or rise)
mundo gira, o sol nasce.
já não sei se isto é viver depressa.
às vezes sou eu na câmara frigorifica, às vezes a espera da imobilidade do mundo, enquanto vou e venho.
o passado todo baralhado, o futuro todo às postas de dependência. o presente hermeneutico.
faltam 3 semanas.
pegar no que em mim é transportável e ir.
e pensar que assim ganho tempo. e pensar que assim ganho,
pondo o próximo passo entre mim e os passos que podia ter dado, que posso ainda dar, mas não darei. passos entre mim e o sonho.
pensar que ganho sentido para a ficção em que se tornou o meu centro.
ir e abandonar.
até lá, o passado baralhado, o futuro todo em retalhos de dependência. o presente imóvel e frio.
os passos à espera. as ficções comprometidas entre as horas. o cuidado, muito cuidado. o tique-taque da existência. e sempre, sempre, esta solidão que se encolhe entre os ossos, como a humidade.
Rise (by Eddie Vedder, in
Into the Wild OST:
Such is the way of the world
You can never know
Just where to put all your faith
And how will it grow
Gonna rise up
Burning back holes in dark memories
Gonna rise up
Turning mistakes into gold
Such is the passage of time
Too fast to fold
And suddenly swallowed by signs
Low and behold
Gonna rise up
Find my direction magnetically
Gonna rise up
Throw down my ace in the hole
tardes de verão
quando não há oxigénio suficiente para sair de casa... ouço o
chris garneau
song in the desert (to DEE)
in the dark waiting
the messenger and the word
holding
hands with brother
and sister
and the night switch and the end
the watershed, the dam and the flood
the crops, the sowing and the reaping
the bear and the hawk, the skin and the blood
and the land
not ours
the sky
not ours
the word and the voice and the whisper and the song
the desert
in my hands
holding and weaving
my brothers
and my sisters
One Art The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.
Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.
Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.
I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.
I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.
---Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.
-- Elizabeth Bishop