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sigNature
quinta-feira, março 30, 2006
 
dia de raiva dia de neura dia de convocar o apocalipse para um café dia de cortar as goelas aos santos dia de arrastar ao centro a noite dia de sol que não brilha dia de silêncio maldito dia de amaldiçoar os aviões e as pombas e os velhos e as crianças e o raio-que-os-parta dos namorados todos e dia de curiosidade morbida dia de auto-flagelo e autofagia dia de hipnose trágica dia de esquecer o rio e as margens ao lado. dia de sala escura e tortura doce dia de fome e de doença. dia para passar depressa para o esquecimento.
 
segunda-feira, março 27, 2006
 
eggshell

descobri há pouco tempo que as ampulhetas (aqueles objectos curiosos e anacrónicos para a medição de um tempo virtualmente finito debaixo da mão humana) não são feitas de areia mas antes de cascas de ovo, esmigalhada em pó.

penso na fragilidade da medição do tempo e na fragilidade do ovo e penso também na vida que se esconde em cada casca, em cada concha, às vezes até nascer, às vezes a vida inteira. como a nossa pele é uma concha bela que nos aconchega e nos trai, tão frágil, uma membrana entre o ser e o mundo.

e a concha desabitada anda ali ao sabor das marés durante milénios, até se transformar em pó, areia fina debaixo dos pés, ou um belo colar de madre-pérola, ou um recreio de peixes pequeninos. há semelhanças entre todas as conchas, todas as cascas, por mais frageis ou mais duras que sejam: reduzem-se a pó na continua existência.

as estrelas, como o sol e todas as outras que fazem desenhos no céu à noite (ou só na nossa imaginação) são feitas do mesmo material que nós. somos todos pó de estrelas. quando se diz que "do pó vieste e ao pó voltarás" já se está a fazer ciência e filosofia. e esse pó será depois (e também) uma estrela ou uma concha, ou uma casca de ovo ou o mar ou uma mão humana, bela, que revolve a ampulheta mais uma vez para continuar a imortalizar o tempo.

existencialismo? sim, por favor, de preferência com sal e pimenta,
ou num belo colar de madre-pérola.

o mundo é a minha ostra.
 
sábado, março 25, 2006
 
self portrait saturday?

i've been living so long without pictures of me....

esqueço-me da minha imagem. não a crio, não a vejo, às vezes não a queria. partilhamos o chão que revolve debaixo dos pés. não, nem isso. caminhamos em sentidos opostos.
não, paralelos. não. um espera, outro caminha, um descansa, outro dança. será assim? é esta a ilusão do espaço? olho mais vezes para o ceu do que para o inferno. mas às vezes lembro-me da queda. à deriva na terra de nod, à deriva na arca de noé, à deriva numa caixinha cheia de vozes e desenhos, à deriva pela yellow brick road...click!!
corta, revela.
partilha.
 
quarta-feira, março 22, 2006
 

(...a partir do poema que nunca chegou)

Deste buraco que é a minha mente, deste desespero que é o meu silêncio, desta lonjura que é a minha resignação amarga ao tempo, desta inoperância pela realidade, deste arrependimento sujo de dia-a-seguir, desta gratidão por cumprir, desta sombra fugaz que é o meu desejo, desta torre em chamas onde me recolho, deste esoterismo de observação directa, desta calcinante inveja da dor, deste orgulho mórbido em trapos, deste encolher de ombros à ausência de espaço, deste vazio que é a minha fortuna, deste arcano que é mais escuro que o abismo, desta palavra que não significa nada, deste coração aberto à facada, deste cheiro maldito a morte e suicídio, desta arrogância vibrante das escolhas erradas, desta viagem que nunca acaba, desta janela que nunca fecha e o cabelo que nunca cresce e

deste

minuto

em

branco

Passo circulo roço digo afago as cordas pela líbido acrescento o mar ao longe pela pele riscada junto ao umbigo imaginando um falo enorme a assinar-me o começo imaginando um telhado entre as virilhas imaginando um pedaço de homem na boca em sangue imaginando a violência das velhas meretrizes imaginando o sumo quente da erudita posição invisível
deste
minuto
em branco
passo à janela dos olhos azuis, à curva imberbe dos sonhos mortos, às muralhas do sólido arrancar de verbos, às colinas da solidão áspera que me tiraram sem gravidade todas as ilusões de descanso.

 
sexta-feira, março 17, 2006
 

Para a sublimação da pele

um novelo de percepção alquímica, um novo arame farpado debaixo da língua, um esquecido produto oxigenado em mar e raízes antigas de canção, uma lista de coisas graves e muito violentas, como um livro queimado ou um deus esquecido na estrada; queremos esta cerimónia parcamente gravada em rocha, inventando à pressa um novo código de sombras e uma sintaxe de saliva e sinapses compactas; uma coisa simples que descreva os cheiros de um país estranho, que reduza a distância entre os pontinhos luminosos no escuro, que conte às crianças como é que os cavalos não são verdadeiramente um anagrama de volcanas ou outra utopia das avós.

Para a redundância das migalhas

Uma desaceleração das partículas do sono, naquele momento óbvio em que os barcos viram, um conhecido gosto de pavor e tragédia com uma referência a transitoriedade e a uma especiaria vulgar; um dia de cada vez à vela pelas cavidades das montanhas, sem percalços de maior grito, sem gritos de maior queda, sem quedas de maior. Apenas aquele esmagamento da tensão de quem sobreviveu séculos no telhado de uma catedral à espera da redenção amena da chuva e do trovão.

Para a alienação das palavras

Um desenho, um carimbo, uma forja, um forno, uma faca, uma caixa de fósforos, um balde de água, um berço, uma pá, um caminho pela falésia, um buraco no tecido espacio-temporal, uma chave, um voltar-se para o outro lado da cama, uma nova espécie de morangos, um lugar a mais à mesa, uma eleição, um centímetro quadrado entre as omoplatas, um brinquedo perdido, uma mancha de bolor na parede, um velho amante, uma mentira comum, um relógio de sol, uma dança solitária. O desmaio.

 
quarta-feira, março 15, 2006
 
Esta é a única excepção para a minha regra de "poets should NEVER date poets" e deve ser dos poemas de amor mais bem conseguidos que alguma vez li, paralemamente a "fever" do mesmo autor, mas que não consigo encontrar na net e tenho numa fotocópia perdida algures na minha memória. a biografia deste poeta devia chamar-se "Como amar uma louca", "Como amar como um louco" ou então....e porque escreveu também poemas para crianças "Amar como uma criança"

oh sylvia, sylvia...how could you kill your self?

Lovesong (by ted hughes)


He loved her and she loved him
His kisses sucked out her whole past and future or tried to
He had no other appetite
She bit him she gnawed him she sucked
She wanted him complete inside her
Safe and Sure forever and ever
Their little cries fluttered into the curtains
Her eyes wanted nothing to get away
Her looks nailed down his hands his wrists his elbows
He gripped her hard so that life
Should not drag her from that moment
He wanted all future to cease
He wanted to topple with his arms round her
Or everlasting or whatever there was
Her embrace was an immense press
To print him into her bones
His smiles were the garrets of a fairy place
Where the real world would never come
Her smiles were spider bites
So he would lie still till she felt hungry
His word were occupying armies
Her laughs were an assasin's attempts
His looks were bullets daggers of revenge
Her glances were ghosts in the corner with horrible secrets
His whispers were whips and jackboots
Her kisses were lawyers steadily writing
His caresses were the last hooks of a castaway
Her love-tricks were the grinding of locks
And their deep cries crawled over the floors
Like an animal dragging a great trap
His promises were the surgeon's gag
Her promises took the top off his skull
She would get a brooch made of it
His vows pulled out all her sinews
He showed her how to make a love-knot
At the back of her secret drawer
Their screams stuck in the wall
Their heads fell apart into sleep like the two halves
Of a lopped melon, but love is hard to stop

In their entwined sleep they exchanged arms and legs
In their dreams their brains took each other hostage

In the morning they wore each other's face
 
 
planos para o futuro:

adormecer na planície
iludir a ilusão da morte
ouvir-te os passos noutra cidade
tropeçar na esquina
não ter medo
não lembrar demais
não esquecer demais

a revolução
a saciedade
a multiplicação dos verbos
o soturno gotejar da noite
a leve ladainha do dia
 
sexta-feira, março 10, 2006
 
Replacement

Não é um post sobre a presidencia da república nem sobre qualquer plantel de futebol, mas também podia ser. Apetece-me escrever acerca de espaços semi-abertos, espaços de função e espaços disfuncionais, onde se metem pessoas, onde habitam fantasmas, onde se compete pela manutenção de um qualquer posto ou título. espaços afectivos de segurança ou desafio onde o eu se anula e se esquece e se torna ele próprio o vazio do espaço. Este post não é sobre mim, mas sobre as pessoas que me rodeiam. eu sei que espaços habito no coração e na vida das pessoas que me rodeiam. no meu e na minha há muito espaço e muita gente, e vai continuar a haver o vazio, mas isso não me perturba nem me comove os dias. Mas aquilo que eu vejo, o que eu ouço, o que me arrasta para estas corridas selvagens e lutas sangrentas e muitas muitas nódoas negras...aiaiai, já não tenho resposta para nada. só ouço e digo "tem calma", "confia", "larga", "tudo se há de compor". devia incentivar à luta e à resistencia, à competição e à agressividade, mas como disse, não é a presidencia da republica nem um campeonato. é a volatilidade dos afectos humanos, algures presos entre a dependência e a obsessão, entre a solidão e a multitude, o bom tempo e o mau timing. e a falta de paciência para esperar, a falta de humildade para perder, a falta de raciocínio para abdicar da culpa, a falta de maturidade para se lidar com as consequências das faltas.... e volto a dizer, amigos, que nada disto é facil: fácil é o desespero e a contínua espera, fácil é a lágrima e o desgosto, o cinzento desesperante das fracturas. é facil tropeçar e deixarmo-nos cair. difícil é ficar de pé, mesmo que estejamos de rastos.
 
quarta-feira, março 08, 2006
 



um flash


revejo na rotina da tua mão que baila sobre a folha de papel
uma água vespertina de um sono brevemente amargo.

deixo a minha mensagem dobrada em quatro
nem muito longe nem muito perto.

confiro os horários pelo calendário à espera de uma regresso
sem nada à volta noutro cais.

pergunto à tua curiosidade
para onde vão estes segundos? não me respondas de onde vieram.

revela-se uma qualquer coisa
sábia.
 
 
react, remove, restore, reverse, remember

a lista é enorme: malentendidos da noite; os meios termos da comunicação; os amigos que ficam; os amigos que não nos ligaram mais; os amigos a quem não liguei mais; as tardes de ressaca no sofá da sala; as conversas de surdos; as reuniões de sempre; o trabalho atrasado; as dívidas a todos; os amigos que não são pagos pelo seu trabalho e estão em risco de ficar desempregados; os anjos da guarda; os putos que cresceram mas ainda me reconhecem; os horários desencontrados; as viagens a mais; as distancias que parecem maiores; as festas que faltam; as festas que hão-de vir; estes novos carinhos; esta carência de sempre; as miudas que me arrastam para um jogo absurdo; os excessos de tudo; a ausencia de tudo o resto; não há prosa que resista, não há lirismo que conte; há a revolução sempre cá dentro; há o amor que se agasalha à espera do verão; há as conversas esporádicas entre os visuais (in)spaços; há muito medo e muito stress do medo aqui pelo meio; a vida que anda sempre desarrumada e o quarto que precisa de ser limpo.
 
quarta-feira, março 01, 2006
 
alguns factos e fragmentos obvios:

- esqueci todo o rancor: não sou eu e, entre o cinismo e o paternalismo do "eles não sabem o que fazem", tendo a perdoar, ficando com mais insight sobre as pessoas que insistem em se verem como o centro do mundo

- substituo o amor pela auto-preservação: não tenho tempo para sofrer miseravelmente por miragens e filmes da minha cabeça; a vida é curta e mais vale bons amigos (e bons amantes, podendo ser ou não os mesmos) do que amores frustrados: as cartas ficaram na mesa, o livre-arbitrio é um direito e também um dever de maturação

- o nomadismo é uma forma de vida que reclama o seu preço: o mundo é minúsculo e nunca o conhecemos todo

- há perolas na lama: vasculhando com paciência, encontramos tesouros no meio da mediocridade....e há sorrisos que nos iluminam

- não faço fretes: tou com quem quero, onde quero e a fazer o que quero. salvaguardo o acaso e a descoberta para me deixar perder de vez em quando com o excitante desconhecido

- as minhas noites continuam a ser melhores que os vossos dias

- depois de tudo isto, descobri que tenho um feitio fodido, volátil, extremado....


-
 

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