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quarta-feira, abril 27, 2005
 

viagem

Tenho a vida que quero, que quis. Nómada e sem medo disso. Horas e horas a viajar, à espera em plataformas e linhas. Há muita eloquência nestes espaços de pessoas em trânsito. É um espaço de solidão e de encontro como são os espaços de quem vai e vem de qualquer coisa. Há sempre uma mensagem escondida nestes sítios e esperar torna-se um puzzle, um jogo de epifanias ou da mais pura observação. Informação oculta sobre o mundo, subliminar, que fica em suspenso algures no esquecimento a temperar o inconsciente. É uma espécie de sabedoria silenciosa e sem teoria alguma que não o mundo e os mundos que o habitam. É por isso que gosto de transitar. Trans-sito, entre sítios (eu sabia q as aulas de latim em que eu dormia me haviam de ajudar…sabedoria subliminar que me ajuda a entender o mundo). Entre sítios diferentes, norte sul este oeste, circulo, espiral, dentro fora, lugar, carruagem: origem destino----- um espaço de criação, um sistema solar. Enquanto viajo no mapa real, junto os pontos com uma caneta dentro da minha cabeça, traçando o meu caminho noutro mapa, um outro desenho com pouco rigor e técnica, mas muita arte.

Tenho a vida que quero, portátil no colo, (esta caixa negra, cofre forte, amigo intimo, mascote) cigarros, uma bebida fresca, música e quando sair de dentro da carruagem e do lugar, chegarei a um outro sítio, um outro local, com um sentimento de chegada, destino. Lá, há parte de mim que é diferente, anónima e sempre uma estrangeira, sem nome, tentando sempre transmitir uma informação e ao mesmo tempo guardar segredo. Dentro das cidades-mente há sempre cantos secretos e lugares públicos, bancos de jardim e quartos com vista. Há também ruas escuras e muita dor solidificada em paredes lisas ou demolidas, lixo e luxo. Tenho a vida que quero: pagam-me para fazer o que gosto e não me prendem, não me controlam. Tenho tempo para ter vida. E eu dou o que sei fazer, e sei que sou afortunada. Tenho conforto e segurança material para não ter medo, sabendo que lido tão bem viver com pouco como con-viver com muito. E mesmo quando posso parar viajo e mesmo quando viajo há uma continuidade móvel, como um caleidoscópio: giro uns dias e está diferente, uma outra perspectiva, estas ligeiras, diferentes. Não é difícil imaginar que sempre que chego, chego não à mesma, mas a uma dimensão/realidade diferente. Viajo muito na minha cabeça.

Assim, tenho dúzias de números de telefone e tantos emails diferentes, pessoas com o mesmo nome de terras diferentes que se confundem. Tenho médico em Coimbra, dentista em Portimão, farmacêutico em Lisboa. Amigos e camaradas em vários sítios da Europa e do mundo, também eles sempre em trânsito. Mais, conheço pessoas todos os dias e tendo a aproximar-me e aproxima-las. Acho sempre que a vida é curta e o mundo é tão grande…e também tão pequeno. Tenho várias mochilas com imenso espaço e coisas espalhadas: 3 escovas de dentes, roupa interior, calças, malas, camisolas e casacos em vários sítios. Tenho máquina de lavar e secar em Coimbra, o ferro em Lisboa e a costureira no Algarve.

E as coisas compõem-se no fim. Há um sentimento de fim de história, pequenos gestos, mensagens e músicas (pormenores) que ficam associados às vitórias e às derrotas, às alegrias e às tristezas, ás noites, aos dias, às madrugadas, ao acordar e ao adormecer, às casas e às ruas. Às partidas e às chegadas Não me lembro das pessoas na plataforma mas lembrar-me-ei de hoje. Agora estou a ouvir um álbum que tem tudo a ver com esta viagem em particular, a metáfora que se encaixa na perfeição entre os sítios dentro e fora de mim, e o movimento entre eles. Outras músicas e outros filmes terão feito um pequenino ou grande golpe na casca da árvore, sem datas ou nomes, mas eventos memoráveis de viagem. A minha vida tem uma banda sonora. A minha vida tem memória sensorial acesa. Prendo-me pelo toque, pela música, pelo cheiro, pelo sabor, pelas cores e pelas imagens. Continuo a dizer que o melhor do mundo é a arte, a janela do comboio da mente, do quarto alugado na mente, a vista da varanda da mente, o telescópio e o microscópio da mente, o útero e o recto da mente. E do corpo, e do corpo. Mantém-me saudável, a arte. Mantém-me livre. Há arte em todo o lado do mundo. Há pessoas na arte. Posso transporta-la na mochila, no computador, nos cds, nos livros. Não pesa tanto como os objectos, as fotografias.

 
terça-feira, abril 26, 2005
 
Another night in - Tindersticks

Greed's all gone now, there's no question
And I can see you push your hair behind your ear
Regain your balance
Doesn't matter where she is tonight
Or with whoever she spends her time
If these arms were meant to hold her
They were never meant to hold her so tight
For the love of that girl

Greed's all gone now, panic subsides
When I could run, pulling arms to love her
Try to put myself on the inside

Of the love of that girl
Tears swell, you don't know why
For the love of that girl
They never fall, they can never run dry
For the love of that girl

Promise is never over, never questions that needed reply
But she could breathe deep into my neck
Let me know I'm just on the outside
Of the love of that girl
Tears swell, you don't know why
For the love of that girl
They never fall, they can never run dry
For the love of that girl

Greed's all gone now, there's no question
And I can see you push your hair behind your ears
Regain your balance
Doesn't matter where she is tonight
Or with whoever she spends her time
If these arms were meant to hold her
They were never meant to hold her so tight
For the love of that girl
Tears swell, you don't know why
For the love of that girl
They never fall, they can never run dry
For the love of that girl
 
sábado, abril 23, 2005
 

poema do adormecer

abro as mãos abro
as horas contadas pelos dedos mortos e tanto tanto
silêncio dentro da mala aberta como um crâneo limpo

nesta ninharia de bocejo a hora tarde tarda
nesta ínfima bondade de boca ao ar fresco morno
um beijo branco
um pequeno gesto para lembrar o universo

o corpo em concha supernova
em pulsação grave junto ao peito descrendo o sonho
em leque

uma curva que se concentra em dado ponto solar
neste tempo neste pequeno espaço
de tempo

 
quinta-feira, abril 21, 2005
 


[para os românticos incuráveis e para quem conhece as várias versões desta modinha (muito bem esgalhada também pelos Nouvelle Vague)]

In A Manner Of Speaking

In a manner of speaking
I just want to say
That I could never forget the way
You told me everything
By saying nothing
In a manner of speaking
I don’t understand
How love in silence becomes reprimand
But the way I feel about you
Is beyond words

Oh give me the words
Give me the words
That tell me nothing
Oh give me the words
Give me the words
That tell me everything

In a manner of speaking
Semantics won’t do
In this life that we live
We only make do
And the way that we feel
Might have to be sacrificed

So in a manner of speaking
I just want to say
That like you I should find a way
To tell you everything
By saying nothing

Oh give me the words
Give me the words
That tell me nothing
Oh give me the words
Give me the words
Give me the words
Give me the words
Give me the words



 
segunda-feira, abril 18, 2005
 
Poema do acordar (II)

onde está o limite. onde está aquilo que sei. onde estão as mãos. onde está o coração que bate no fundo da nuca. onde está o silêncio. onde está o único beijo. onde está a única palavra. onde está a única recusa. onde está a sabedoria do único universo possivel. onde está a distância possivel. onde estão a água e a comida e a sobrevivencia do espírito que não faz sentido. onde está o mal que desejo. onde está o desejo sem querer. onde está o calor distribuido pelos corpos na falta de horas. onde estão as únicas horas possiveis. onde está a integridade do momento. onde está a utilização da telepatia. onde está o sonho conjunto e o sonho separado, pensado, catalogado. onde estão a posse e o medo. onde estão os cheiros misturados. onde estão a dúvida e a arrogância de saber tudo. onde está o meu corpo no meio do corpo e a minha mente em torno da mente afogada. onde estou. onde estou dormente. onde deixei o sono. onde pus o corpo. onde pus o mapa de proibições, junto ao mapa da vida. onde pus a mentira debaixo da almofada. onde quero o que não sei controlar. onde não há caminho. onde uma dor me aflige o estômago e me queima a língua.
 
quarta-feira, abril 13, 2005
 



Poema do acordar

sinto menos alma na carne. (já não acreditam nas minhas palavras.) A presença é inútil e feita de um só olhar ambíguo. – uma viragem ao auge da borboleta. cem cigarros. - preciso de um desejo já não preciso de muitos. – demasiada a janela e a rua e as pessoas na rua e as pessoas dentro das pessoas na rua. - sinto as marcas na pele e a boca seca (e quero-te agora. quero-te. a tua boca em todo o lado, o cheiro da tua pele, a pressa toda do dia na pressão dos corpos) - tenho sede, dói-me sempre qualquer coisa. -botão para retirar as horas de dentro das horas das pessoas na rua. - quero a indiferença do desespero da mesma forma que eu não a sinto. mais uma. eu não me importo. preciso disso. – a diferença do desespero marinado. – fresco e quente na dobra do tecido entre as pernas. sabemo-nos. mais. – uma flor que tem sede. – não saber as semanas trescompassadas. –que dia é hoje? dentro do dia que pesa no dia das pessoas na rua.

–“ eu descobri e sei uma coisa em que podes pensar!”. (– sem escola, um furo no escuro. – nem um só miligrama de cinismo…tenho agora dezasseis anos e já sei medi-lo como razão. Como ração. ) passo como pessoa na rua cheia de horas dentro do dia que é hoje.

devolvendo-me à almofada. lado a lado a lado a lado. sem recuo breve. sem recusa.

-levanto-me.


 
segunda-feira, abril 04, 2005
 



Tar
and feathers

Oculto este jogo de pesos e de coisas que se anulam: um esquema só de coisas que esbraquiçam o ser manhã e o ser que anoitece ao mesmo tempo, colando-os ao mesmo lado da folha de papel.

Uma gota escorre pela lâmina abaixo enquanto a vista aérea ignora o negrume. E continua a subir enquanto esse meio-veneno escolhe as suas próprias virtudes. E continua a descer enquanto essa meia-escama se multiplica em escada.

O esquema oculto de sinónimos entrando e saindo pelas frestas das gavetas: nada mais interessa a esse ritmo acéfalo e mimado entre braços e soluços vários, entre o breve insulto saciado e a mais pura das provetas da imagem-padrão. Nada mais interessa ao jogo de gravitações. O que sobe e o que desce e o todo que mais se fica espraiando quando todo se imagina horizonte.

 

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