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sexta-feira, março 17, 2006
 

Para a sublimação da pele

um novelo de percepção alquímica, um novo arame farpado debaixo da língua, um esquecido produto oxigenado em mar e raízes antigas de canção, uma lista de coisas graves e muito violentas, como um livro queimado ou um deus esquecido na estrada; queremos esta cerimónia parcamente gravada em rocha, inventando à pressa um novo código de sombras e uma sintaxe de saliva e sinapses compactas; uma coisa simples que descreva os cheiros de um país estranho, que reduza a distância entre os pontinhos luminosos no escuro, que conte às crianças como é que os cavalos não são verdadeiramente um anagrama de volcanas ou outra utopia das avós.

Para a redundância das migalhas

Uma desaceleração das partículas do sono, naquele momento óbvio em que os barcos viram, um conhecido gosto de pavor e tragédia com uma referência a transitoriedade e a uma especiaria vulgar; um dia de cada vez à vela pelas cavidades das montanhas, sem percalços de maior grito, sem gritos de maior queda, sem quedas de maior. Apenas aquele esmagamento da tensão de quem sobreviveu séculos no telhado de uma catedral à espera da redenção amena da chuva e do trovão.

Para a alienação das palavras

Um desenho, um carimbo, uma forja, um forno, uma faca, uma caixa de fósforos, um balde de água, um berço, uma pá, um caminho pela falésia, um buraco no tecido espacio-temporal, uma chave, um voltar-se para o outro lado da cama, uma nova espécie de morangos, um lugar a mais à mesa, uma eleição, um centímetro quadrado entre as omoplatas, um brinquedo perdido, uma mancha de bolor na parede, um velho amante, uma mentira comum, um relógio de sol, uma dança solitária. O desmaio.

 
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