Os protagonistas dos romances de Gibson têm uma íntima e poderosa relação com o ciberespaço enquanto entidade, um chamamento e uma dependência que ilustram a completude erótica, passando este processo pelo intenso envolvimento físico, metafísico e inclusive religioso, deixando a “prisão” do corpo para privar com a estrutura supra-corpórea. Evocando Platão, Heim desenvolve o conceito “erótico”: EROS é o impulso, a ânsia e a inspiração para se ultrapassar o mundo das Aparências, limitado pela fronteira corpórea, para encontrar o mundo das Essências, das Ideias. O ciberespaço enquanto entidade independente de uma estrutura física, onde a informação (as ideias) “flutua” é esse mundo, o do LOGOS. Segundo Platão, só pelo processamento lógico (matemático, diremos) ascendemos a esse mundo perfeito. Contudo, e Heim sublinha esse aspecto, o ciberespaço, hoje, engloba também todos os aspectos das Aparências, das imperfeições. Todas as realidades, toda a Realidade é transformada em informação, até a existência humana: “The ultimate revenge of the information system comes when the system absorbs the very identity of the human personality, absorbing the opacity of the body, grinding the meat into information”. A fronteira primária da individualidade, o corpo físico, passa a ser parte do sistema enquanto zeros e uns.
"the Erotic Ontology of Cyberspace", de Michael Heim, excerto de uma comunicação por C.P.