Ordeal
Nestes dias andamos todos à prova. temos que provar coisas e ser provados. já para não falar à procura, procurando e sendo procurados. já para não falar naquele vaivem constante de negociar aproximações e afastamentos, no tempo e no espaço, do corpo e da mente. temos todos que provar o que valemos, e valemos o que fazemos, dizem. a quem? ninguém nos diz, contudo, mas suspeito que há um pequeno juiz dentro de nós, barbudo e austero, sempre pronto para atribuir a pena máxima quando não era para tanto e a ser condescendente quando nos queremos iludir. um pequeno juiz carrancudo que de vez em quando se mete nos copos ou coisa parecida.
volta e meia há coisas que me vêm à cabeça e que me perturbam seriamente, como certos casos de oportunismo social, certas ingenuidades escapistas, flagrantes, inorgânicas e, no worst case scenario, fatais. mas sempre haverá gente descontente e disposta a recorrer das sentenças. isso será bom ou será mau, pois o sentido de justiça serve-nos muito bem quando é à nossa vontade. fica uma certa desconfiança e o levar as coisas devagarinho se houver paciencia e à bruta se estivermos preparados para as consenquencias assustadoras que nem dão tempo para respirar antes do mergulho de adrenalina. não consigo evitar preocupar-me demais com certas coisas e de menos com outras. um dia destes hei-de conseguir por as coisas "em perspectiva", a maioria ficará muito contente comigo e a minoria hipócrita também.
“Se a forma tem aversão à conformidade, é porque se afasta do desejo insaciável- que é também ódio- que esta cultura tem da assimilação - um ciclo maníaco-depressivo de aceitar e rejeitar (…)”
Charles Bernstein “A-Poetics”