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sigNature
segunda-feira, novembro 22, 2004
 

Em torno de rotundas, neste espaço compreendido no horário de expediente, as pessoas (essas como eu) insistem em fugir-se à felicidade. Insistem em fingir-se e em não se mover. De vez em quando arrastam (como eu) a sua revolta e as suas mágoas e os seus sonhos por cumprir num cadaverzinho verde mas muito mal amanhado, bem apanhado pelos cabelos, um corpo mole de trapos, injúrias e pedaços de corações. Sentam-se e pedem uma bica, sem ponderar que esse embrulho possa precisar de uma bebida quente, para aguentar os trambolhões lentos da viagem, e de uma outra de volta a casa. Ou se quer ficar ali mais 5 minutos, ou acidentalmente esquecido numa paragem de autocarro, ou em cima do autoclismo, como um qualquer maço de tabaco. Constantemente insatisfeitas e acomodadas em simultâneo, estas pessoas lançam as ideias como bafos em cigarros, uma sala cheia de fumo e muita febre tóxica. E a inveja dos dias e das noites secretas. E o pânico de não ser hoje. E o pânico de ser de facto hoje. E mais um cigarro e um toque macio no cadaverzinho verde. E um copo de água para magnetizar.
Às vezes as mesas ficam cheias, e cheias de ruído, cada um falando com ou acerca do seu cativo verde, como de um cão ou um gato. E assoma-me a piedade, mas nunca sei de quem. Talvez dos cães e gatos deste mundo. Histórias por camadas, como um bolo prestes a entregar uma fatia à posteridade, mas cujo recheio, aquela coisa entre as várias camadas, fede a bílis e à mais pura cobardia. E cada dia a mais ele não se revela nem se ingere. Apenas espera o fim do turno. E não há uma comissão de enteados verdes, um sindicato para estas indefesas criaturas que se vêem arrastadas pelos cabelos para a rua. Não há um único e imenso hino revolucionário que os incite à revolta, uma canção de ruído e grito amargo, um quadro todo negro como uma janela, uma massa de barro branco para calcar as impressões dos dedos moles. Não há uma inspiração para estes monos de museu, um catre para o descanso dos injustos e dos injustiçados. Só um verdete enjoado e mole na cadeira mal ajeitada perto da memória, sem olhos para ir contando os minutos da ida, sem esperança mais do que o fim do turno. Sabendo que nenhum se lhes compara, que são únicos e inacessíveis, invencíveis sem casca, pelo tempo com todo o tempo do mundo. Habitam toscos na miséria dos vivos que riem desconsolados, entre a insatisfação e o comodismo.

 
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