"estou cansada", pensei eu no momento auge de uma festa, sem um tusto no bolso, com a cabeça a girar. cansada de circular por aí sem querer ir para casa e ansiando ir para qualquer conforto caseiro. pensei que já chegava, que o sentido de tudo aquilo já não fazia sentido para mim a sentir-me ficar velha a ver-me beijar um rapaz de vinte anos a ver-me sem cigarros a ver a vista para a cidade maravilhosa. a alice acordou à beira do lago e voltou para dentro dando um pontapé no baralho de cartas. este tempo de calendário roto. este tempo de caprichos e de falsas esperanças. sentir a beleza dos homens e também das mulheres que se tocam com ternura e sorriem para o espaço no meio. sentir essa beleza e os meus dedos frios nos bolsos do casaco vazio. tomem conta de mim, hoje, que eu não consigo mais. fechar os olhos contra a parede e descobrir de onde vêm tantas nódoas negras, e como desaparecem logo a seguir, como dedadas de carvão e cinza. e ver toda a importância das palavras repetidas tantas vezes a tanta gente. e eu mais uma tola. e eu mais uma.