A semelhança do que tem feito o meu amigo ricardo marques, deixo aqui umas notas sobre a vida no presente e passada, as tempestades da cabeça presente e (bem) passada:
passo os olhos pelas lombadas dos meus livros. agora não. a cabeça está cheia de palavras que não se disseram e outras que nunca serão ditas. despedidas e despedidas. um negligente até breve ou até nunca. um inócuo e sentido se-estiveres-por-lá-liga-me.
muitas viagens ultimamente. uma intensa solidão carregada de caras e vozes. e beijos. o que é um beijo?
passo os olhos pelas pessoas que perdi, que foram e nunca mais voltarão. as que me fazem falta porque sempre me fizeram falta. mas é mesmo assim. faço as contas aos anos que me magoam profundamente, alguns como espinhos, outros como facadas, outros apenas como uma cama desconfortável no chão. e sinto o corpo dorido e velho e sei que não será possivel recuperar os grãos da ampulheta nem os quilómetros da estrada. sei que não será possivel nunca remendar as feridas do que foi dito e do que foi feito. e daquilo que não foi. mas nós sabemos todos disso.
(lembro-me do poder dessa noite, em que estivemos os dois à mercê daquilo que queriam de nós e não daquilo que nós quisemos. como se tivessemos uma certa vontade sado-masoquista de ficar e ver-nos a passar as mãos e a boca de tanta gente pelas nossas enquanto não arredavamos os olhos um do outro. e mal nos aproximamos quisemos fugir dali e não nos deixaram. e mal nos acusamos e mal nos desculpamos disto tudo. nenhum de nós quis perceber nada, mas sabemos que o mundo não está por nós, e que o nosso amor é absurdo e violento.)
e aquilo que eu te disse que não podia acontecer aconteceu mesmo.