Not easy like sunday morning
podia falar de desgostos de amor que não chegaram a acontecer. podia escrever sobre a conjugação dos astros em maus timings que ficam em caldos mornos. podia pensar em coisas piores e coisas melhores no mundo do que a minha vidinha repetitiva. podia massacrar-me com destinos mediocres e esperas intermináveis, com uma agenda cheia de coisas atrasadas e um corpo mal-tratado. podia elaborar uma lista de perspectivas à laia de plágio, ou uma lista de invejas de coisas que não invejo realmente. podia ter saudades de mais gente a toda a hora. podia ter o paladar mais apurado e a razão mais volátil. podia ter mais sorte e podia ter mais azar. anda ali pelo meio em caldos mornos. podia recordar noites de sexo bebedo e amigos já perdidos. podia falar de enganos e palavras frias, de enganos e palavras vazias, de enganos e palavras belas. e porque é que não faço? porque não sei começar, não sei falar de mim por ordem alfabética, não sei como fazer as coisas resultarem nem sei quando a maré vai mudar. não sei onde encontrar respostas nem sei fazer perguntas de jeito. nem sei se vale a pena pensar muito nisto enquanto o mundo sofre e enquanto pessoas dormem felizes. não sei em que sítio montar poiso, nem sei ir com calma, nem fazer planos, nem como reconhecer a verdade.