quero hoje um dia sem dor na memória dos tempos. quero hoje um dia de homenagem à vida e aos anos que passam e continuam a passar sem misericórdia. um dia para os realizadores de cinema e pessoas nervosas e de bom humor, para os jovens homens geniais, depressivos e inseguros com irmãs mais velhas neuróticas e viciosas. quero um dia próximo de amigos velhos e novos, mas com horas de solidão para o cérebro se activar em conhecimento e arte. quero um dia em que o corpo não sinta o quanto não tem e o quanto já deu na ausência das palavras. quero um dia - e uma noite, se for caso- de salvaguarda monótona, sem morbidez nem luta, sem mais do que uma saudade sonhadora de tudo aquilo que
poderia ter acontecido se o mundo fosse menos cruel nas suas disposições. quero um dia para respirar e saber que não estou a caminhar no lado errado, que os meus instintos estão certos 99% das vezes. quero este dia -e só este, e amanhã será diferente- para ser mais um dia.