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A pequena escuridão onde a irracionalidade se faz bocejo de faz-de-conta, onde se finge bem o que não se quer dizer; a pequena cegueira que permite entender que a romã é o fruto mais interessante, uma luz vermelha onde se revelam poemas aos cachos e para cada palavra irregular que se trinca, para o esquecimento veloz, cada gota de pedra que se perde na boca em desejos.
E as memórias hoje são espirais de fumo que se inalam depois da taça vazia. Uma tragédia sem voz nem interlocutor, sem espelho nem elevador, sem fechadura ou cordões para atar. A pequena escuridão necessária para ignorar as nódoas e grafar as cicatrizes com as pontas dos dedos ou, num corpo brando, para sorver o gosto ácido da ausência de passado. Entre os sombreados estrategicamente atirados ao chão, a pequena escuridão entre os membros cambaleantes, testemunha única da vitória sobre a aquosidade plana, a pequena escuridão entre o giz e a grafite, entre a partida e a chegada à superfície, entre o riscar do fósforo e a fervura. A pequena escuridão recolhida com frio e dores, aninhada ao fundo de um campo aberto de girassóis. A pequena escuridão de faz-de-conta que nada mais se pode dizer.