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Estes dias e estas noites incham na divisão dos abraços quentes neste vício do teu cheiro morno na imaginação da cidade fria. Ficam espalhados pela manta como um baralho de cartas evitado numa jogada que não queremos enfrentar. Ficam quietos numa ladainha de memórias dentro de memórias opacas das palavras dos outros e das nossas. Não pedimos as horas, não acordamos mais cedo nem mais tarde do que a solidão que não nos conhece nos caminhos até casa. Ficam os olhares acesos do truque repetido. Ficam os abraços perdidos nas lutas contra o corpo e contra o copo. Ficam os abraços perdidos na luz do futuro e da água que partilhamos do mesmo golo. Ficam na minha pele todas as coisas de que me vou esquecer a seguir. Ficam os minutos que nos oferecem para amar mais na espera dos comboios e das estradas. Ficam nos meus bolsos os restos das tardes e a dor que sobrou nunca mais sentida por nenhum gráfico. Ficas tu e a tua sombra junto a mim e ao meu reflexo. Ficamos parados no avanço da brutalidade da vida. Ficamos juntos apenas na despedida à pressa que já ensaiamos vezes demais. Fico caída em mim e aninhada em todas as verdades macias que beijamos de olhos fechados nos cafés que revisitamos às vezes. Ficas algures num fio colorido junto ao meu peito. Ficas. até amanhã.