connections
a vida é confusa, mas lá se vai vivendo. algo que há 24 horas me arrancava as entranhas e me estilhaçava todas as esperanças de ser feliz - ao ponto de pensar que nenhum ser humano aguenta tanta dor sem enlouquecer - agora parece nada mais do que um pesadelo distante e vago, do qual apenas resta um distante e vago travo amargo nos lábios. e sim, o ser humano aguenta tanta dor (com umas tangerinas e umas lágrimas furtivas no meio da turba anónima da manhã) e perde um pouco da sanidade. perde-a ao ponto de voltar como se se esquecesse, como se não houvesse mais nada do que isso no mundo, aquelas breves horas a pensar cada gesto na familiaridade silenciosa. de repente, um torrilhão de palavras trágicas transformam-se no mais plácido silêncio que nos aguenta até de madrugada. e transformamos esta grande confusão em monossilabos. e conseguimos ler nas entrelinhas dos corpos que se afastam na noite, nos centimetros que não se correspondem, no carinho que não sabe que forma tomar. mas lá se vai vivendo, sem saber que palavras usar para transmitir tudo isso a quem não sabe sequer se sabe ouvir, se fala a mesma lingua, se terá outra resposta que não o mesmo silêncio.
assim, recomponho estas restias de sanidade (ou restias de loucura) e prossigo os dias como se nada fosse. e espero a volta, relembro os cheiros perto de mim e as texturas debaixo dos meus dedos....o calor, esse é sempre igual e facilmente imitável. como se nada fosse, vai-se vivendo.