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sigNature
terça-feira, abril 04, 2006
 

Monstro
Exactamente igual à sua imagem no espelho; tece com mãos delicadas a sua armadura, as mesmas mãos com que amordaça a vítima, as mesmas mãos com que lhe retira o ar do corpo; exactamente igual ao seu carcereiro; inventa com jogos meticulosos a sua rotina, os mesmos jogos que ensina às crianças, os mesmos jogos que nunca perdeu; exactamente igual às suas palavras; canta com voz suave a sua fragilidade, a mesma voz com que nega tudo, a mesma voz com que delata nomes e datas, a mesma voz que se cala naquela altura de grito; exactamente igual ao seu passado; embala com os braços fortes a sua maldição, os seus pactos com os fantasmas, as suas promessas de imortalidade e justiça, os mesmos braços que seguram o suicida na ponte, o trapezista nas alturas, a espingarda no pelotão de fuzilamento; exactamente igual ao sabor do sangue; recolhe com devoção o seu salário, devora com suavidade a sua própria cauda, entrega com paixão a sua mortalha ao coveiro; exactamente igual à sua morte, o monstro brinca com moedas e paus, corações e taças, ignorando que dentro de si revolve mais uma vez o mundo.

 
Comments:
Belíssima prosa!
 
Mas nunca se resolve o "nosso" mundo, pois não?... Continua a procurar. Sei que vais encontrar, pois tu interessas-te...

'and the wheel keeps turning...'

,kisses
 
O teu texto, belíssimo como sempre, é um caír de véu, é um aviso a quem se mune de máscaras de sensibilidade para esconder uma tortuosidade de sentimentos.
As tuas palavras mostram-me um caminho, dão-me uma outra opção...
 
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