escorrendo
apanho as aparas do tempo no meio do chão, no meu colo cheio de poesia, na minha solidão escura sempre à espreita de uma presa. enquanto isso o mundo gira a cai sobre o seu próprio abismo. vou aos poucos arrependendo as inconfidências etilicas da noite e de todas as coisas que digo aos soluços. e arrependendo incontáveis carícias que me puxam o cabelo.
sinto uma mão pelas minhas costas à pressa, para aquele espaço que agora não se vê mas que sabe que lá está. sinto essa mão clandestina. sinto as palavras bem escolhidas pelos espaços virtuosos. mas elas não cabem na mão fugitiva. não cabem na lógica do desconhecimento e do medo. não cabem no constante controlar das letras. e gostava de encontrar mais do que uma desgarrada extemporânea de códigos.
escorro para dentro dos sentidos uma amalgama de cegueira, surdez e loucura. um fio de sangue e memória em volta do pescoço. uma condição electrica de ataraxia. o resto são miudezas. entranhas e instinto. a noite, a voz e a volta. o eterno caminho de retorno ao ventre.