janela (cadu aka carlos eduardo)
uma janela aberta para a rua a cheirar a mar e a neve...uma janela com um sorriso enorme a dizer-me que o mundo agora mesmo começa no copo de água que me vai desintoxicar. uma janela sem casa em transito no meu caminho quando já não havia caminho. e era só a mesma rua.
havia de o guardar nas palavras. havia de lhe dar um nome de milagre sumarento. havia de lhe encontrar um nome perdido de dois seculos que explicasse porque é que o avião não partiu e porque é que andou quilómetros para encontrar a minha dor e, só com uma mão, a acalmar no silencio da distância.
e dava tudo para não acreditar que o sol nasce e a noite morre. e este anjo (porque lhe vi uma pena no meio da confusão) foi despejado aqui sem armadura nem asas (nem bagagem) para me dizer que o mundo é tão pequeno como aquela distância que ontem separava os glaciares entre as nossas peles. este anjo entre andares e meridianos, janelas e portas, nesta linguagem que nos obriga a tocar, passou e ensinou-me a respirar quando já só me restavam as sobras do mar.