shattered mirror glass
entro nos despojos das minhas viagens, bagagem neutra e vazia e suja e as cores revelam-me o entulho que comprimi dentro de mim como qualquer ficheiro que transita leve e cumpre o seu propósito. tudo em mim cheira a fumo, tudo em mim já não é branco, já nunca foi novo. mexo os dedos como quem cria, como quem dirige e aponta, como quem nunca tocou um corpo, como que espera fazer magia e não sabe. mexo os dedos como quem arranha. mexo o corpo para me sentir viva, deixo o corpo para me sentir. desta vez o sono chama-me e arde. desta vez o dia magoa-me em solavancos como se cada um de nós todos fosse pedra, pedaço de caminho. colinas, montanhas, fossas, abismos onde me perco sentindo vontade de uma cadeira e de um cigarro, de um banho a esponja, ou a espinhos. aqui me vejo. de um satélite absurdo que paira longe deste planeta, rindo dos que sangram verdadeiramente e nunca beberão água no final da viagem. rio porque não posso sangrar por eles.