SOMBRAS
procuro as sombras. não aquelas do espaço virtual, mas as frescas consequências da luz e dos objectos quando se cruzam na revolução celeste. falo da manipulação expressionista do abraço e do sorriso. falo daquele vazio entre as gretas das persianas e as frestas das portas. procuro as sombras quando as luzes me cegam e já nada brilha de tão queimado. procuro a sombra para ir adormecer a minha falta de esperança e acordar mais tarde numa outra vida onde saiba chorar um pouco mais, onde a minha pele não saiba a pedra, onde a sede possa morrer. procuro as sombras onde outrora dancei sem medos, donde vinha apaixonada e nada queria mais do que apenas mudar o mundo. procuro as sombras de todas as cores para fazer uma paleta mais colorida. procuro as sombras das palavras que já disse pelo menos uma vez e esqueci a dada altura, entre o nascer e o pôr do sol. procuro as sombras nas grutas da memória, para depois acender um fósforo e criar de novo o universo.