sagesse
Largou tudo para andar em torno da rotunda. às vezes apagava-se e questionava o círculo e a espiral. ponderava o fim do mundo que ali começaria, no centro geométrico daquela figura bidimensional. às vezes esmagava-se e andava mais rápido, tentando acelerar a rotunda. contudo, o passado era o mesmo, sempre que por ele passava. à tontura opunha a ousadia. à náusea, a dor. conversando e inventando umas palmas para acompanhar a música, notava as paletas ligeiramente incoerentes do crepúsculo e da aurora. estancava num ponto apenas para assistir a um acidente molecular. pelo caminho espalhava umas migalhas para poder apanhar os pássaros, ou para ter que jantar. levantava-as às vezes, de costas, quando lhe parecia apetecer um pão. nunca se sentou. supunha com medo que, se o fizesse, o tempo pararia para sempre, e que quem por ali passasse, rodeando a rotunda, pudesse achar que aquela que ali estava sentada nunca se tinha atrevido a andar.