sigNature
re-group
há que reconstruir agora as rotinas de inverno. agosto acaba esgotado e mal-pago. ardido e insatisfeito nos primeiros chuviscos na praia. começa a contagem do tempo e dos prazos. começam as despedidas dos amores de verão, os beijos a quem regressa. de longe ou de perto, regressam. começa a escolha de uma outra banda sonora, o arregaçar as mangas para as lutas dos primeiros meses, estender o calendário sobre a mesa e traçar novos planos. saudações e saudades em novas moradas. e queremos tod@s amar. sabemos disso. e custa mais a solidão de inverno. ou será no verão? já nem sei. sei que nos custa sempre, a solidão.
the world keeps turning.
Dance me to the end of loveCá vou eu cá vamos nós aos encontros dos desencontros dos trilhos e das encruzilhadas ser terra e ar e água e ar e zeros e uns e fogo a dançar e cá vamos e voltamos a sorrir e a abraçar o caminho debaixo dos pés e dentro da mente e fora do corpo e por dentro do corpo outra vez e cá estamos e logo ali nos vemos e lá somos e uma fatia a mim a dançar e outra a vós a dançar e outra partilha mais com os bichos e a gentileza da terra que se multiplica em fibra óptica. ir e vir com a palavra fecunda de silêncio e deixar as delícias dentro da boca, sobre o corpo da língua, debaixo das palpebras, na ponta dos dedos. até já.
[
freedom festival, barragem do caia, elvas, 18 a 21 de agosto de 2005]
incen-diário
tudo arde neste fogo desapontado. tudo se reduz a cinzas como a minha pele, deixando uma mancha que desaparerá com(o) as primeiras chuvas. limito-me a pensar na passagem do tempo e em como ele nos circula.
escrevi sete páginas. o sol arde.
esqueço-me de coisas básicas, como puxar o travão de mão ou beber água. o volante arde. o teu beijo arde. nadamos um no outro à deriva no chão.
os dias arrastam-se nesta cidade. como soube bem a água salgada e a ausencia de pé. a solidão arde como a saudade.
pego na gata para lhe dizer que estou aqui. os dias ardem na ponta dos meus dedos.
mais notas avulsas (post-its amarelos para o coração)
tenho a pele queimada de tanto silêncio desencontrado. as caras e as vozes aparecem-me em sonhos e desaparecem-me no acordar. vou permanecendo para fingir que não vou nem venho, que nada significa nada e que o tempo e o espaço são um só. encontro apenas o ridículo das situações.
há muito tempo que não vejo um filme nem leio um livro. alimento-me de ficções outras. imagino o poder e o amor, imagino o destino e a sua banda sonora, imagino todo o elenco e as dificuldades de produção, os óscares e a distribuição pelas salas, imagino as sequelas e as mazelas, as carreiras destruidas e a fraca dimensão do cartaz. imagino a âncora de um filme sórdidamente romantico e a vela de um thriller repetitivo e de fácil consumo.
120 mil esperanças e tremores. 120 mil lugares encaixados e desencaixados das sociedades e do futuro das sociedades. e ninguem quer saber muito mais e ninguem quer ficar sem saber. 120 mil certezas e desilusões em tão curto espaço e em tão pouco tempo. fui para mentir ao mundo e roubar-lhe as energias. voltei sem verdades e de bolsos vazios.
A semelhança do que tem feito o meu amigo ricardo marques, deixo aqui umas notas sobre a vida no presente e passada, as tempestades da cabeça presente e (bem) passada:
passo os olhos pelas lombadas dos meus livros. agora não. a cabeça está cheia de palavras que não se disseram e outras que nunca serão ditas. despedidas e despedidas. um negligente até breve ou até nunca. um inócuo e sentido se-estiveres-por-lá-liga-me.
muitas viagens ultimamente. uma intensa solidão carregada de caras e vozes. e beijos. o que é um beijo?
passo os olhos pelas pessoas que perdi, que foram e nunca mais voltarão. as que me fazem falta porque sempre me fizeram falta. mas é mesmo assim. faço as contas aos anos que me magoam profundamente, alguns como espinhos, outros como facadas, outros apenas como uma cama desconfortável no chão. e sinto o corpo dorido e velho e sei que não será possivel recuperar os grãos da ampulheta nem os quilómetros da estrada. sei que não será possivel nunca remendar as feridas do que foi dito e do que foi feito. e daquilo que não foi. mas nós sabemos todos disso.
(lembro-me do poder dessa noite, em que estivemos os dois à mercê daquilo que queriam de nós e não daquilo que nós quisemos. como se tivessemos uma certa vontade sado-masoquista de ficar e ver-nos a passar as mãos e a boca de tanta gente pelas nossas enquanto não arredavamos os olhos um do outro. e mal nos aproximamos quisemos fugir dali e não nos deixaram. e mal nos acusamos e mal nos desculpamos disto tudo. nenhum de nós quis perceber nada, mas sabemos que o mundo não está por nós, e que o nosso amor é absurdo e violento.)
e aquilo que eu te disse que não podia acontecer aconteceu mesmo.