shattered mirror glass
entro nos despojos das minhas viagens, bagagem neutra e vazia e suja e as cores revelam-me o entulho que comprimi dentro de mim como qualquer ficheiro que transita leve e cumpre o seu propósito. tudo em mim cheira a fumo, tudo em mim já não é branco, já nunca foi novo. mexo os dedos como quem cria, como quem dirige e aponta, como quem nunca tocou um corpo, como que espera fazer magia e não sabe. mexo os dedos como quem arranha. mexo o corpo para me sentir viva, deixo o corpo para me sentir. desta vez o sono chama-me e arde. desta vez o dia magoa-me em solavancos como se cada um de nós todos fosse pedra, pedaço de caminho. colinas, montanhas, fossas, abismos onde me perco sentindo vontade de uma cadeira e de um cigarro, de um banho a esponja, ou a espinhos. aqui me vejo. de um satélite absurdo que paira longe deste planeta, rindo dos que sangram verdadeiramente e nunca beberão água no final da viagem. rio porque não posso sangrar por eles.
can i play with madness?
são os pesadelos. aquele sentimento de "presença" que não remete para a realidade. são as tonturas. o mundo (galáxias inteiras) a girar depressa demais em torno de um centro-eu. são aqueles caleidoscópios em meia lua na visão que vão ocupando todo o ecrã do dia e depois desaparecem. é o ponto de inércia, do braço de ferro entre a energia e a sua negação. é o calor e o frio no ponto morno ponto morto da viagem. é a prisão da ansiedade. não poder fazer planos e entregares-te nas mãos (algo imundas) do tempo e do optimismo. é a cegueira do zero. que existe apenas virtualmente no observador da árvore da vida, fazendo as contas ao percurso. é tudo o que falta espalhado no chão à minha volta, peça a peça, sem instruções, sem forma mas formas, sem a miragem do todo para se orientar numa só dimensão, a ilusão da simetria, a imagem da fúria em sono e sonhos. dou razão aos surrealistas alimentados em pobreza e álcool, em suor frio de lençóis e sexo. dou-lhes toda a razão que quiserem. aliás...troco a razão deles pela minha.