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sigNature
domingo, março 28, 2004
 
É sempre bom voltar a um sítio que se conhece bem. Ver as pessoas, amigos e colegas e ex-desses e daqueles cuja vida nunca se cruza com a minha a não ser em determinados lugares fixos e fixados por mim. É tudo tão previsivel e por isso tão confortável, mas mesmo assim não perde alguma capacidade de me seduzir de tempos a tempos. Um sorriso bonito que faz covinhas. A Inês está quase a fazer 3 meses, o Pedro vai para o Brasil e o Sandro casa no sábado, a Flavia está quase a ser operada ao coração mas está feliz, e com estes laços e desenlaces a vida passa devagarinho todos os dias longe de mim e ao meu lado, e desenbrulha-se quando cá estou como uma prenda.
e é bom ouvir "tinha tantas saudades tuas".
 
sexta-feira, março 26, 2004
 
Esta canção é dedicada à minha home-away-from-home, Buffalo NY. ela sabe, ela é de lá.

Ani DiFranco - SUBDIVISION

White people are so scared of black people.
They bulldoze out to the country, and put up houses on little loop - d - loop streets.
And while America gets its heart cut right out of its chest
The Berlin wall still runs down main street separating east side from west.
And nothing is stirring, not even a mouse, in the boarded up stores and the broken down houses
So they hang colorful banners off all the street lamps
Just to prove they got no manners, no mercy, and no sense.
And I wonder then what it will take for my city to rise.
First we admit our mistakes and then we open our eyes.
The ghost of old buildings are haunting parking lots in the city of good neighbors that history forgot.
I remember the first time I saw someone lying on the cold street
I thought, "I can't just walk past you, this can't just be true. "
But I learned by example to just keep moving my feet.
It's amazing the things that we all learn to do.
So we're led by denial like lambs to the slaughter
Serving empires of style and carbonated sugar water and the old farmroad's a four - lane
That leads to the mall and my dreams are all guillotines waiting to fall
And I wonder then what it will take for my country to rise.
First we admit our mistakes and then we open our eyes.
'til nation's last taker succumbs to one last dumb decision
And America the beautiful is just one big subdivision.
 
 
More cheerful

pois é, é só mãos à obra. Com o mundo nas mãos. Apesar de estar a ouvir Ani DiFranco, que traduz muito bem o estado de espirito hoje, já andei aí a investigar.
Já mandei um mail para a escócia, e a resposta foi positiva. Só tenho que traduzir o curriculo e mandar uma foto. Já estive a ver alojamento e tb há possibilidade de trabalhar em part-time numa pousada. Aquilo é lindo. e edinburgo é próximo de glasgow, mais proximo do que esta casinha em coimbra.
Eat, drink and be merry, my child. Things are falling into place.
 
 
Cheerful

pois é, tenho que ser mais optimista que tristezas não pagam dívidas. nem saudades, nem amarguras, nem nada que se pareça. a vida como um eterno circo de vitórias e adições (somas e não vícios).
cheer up, darling
fechar estas portas e estas janelas todas para não me engasgar com tanto ar. isto esgota-se. há um tempo para tudo e este é tempo de sair daqui. fechar a casa, desligar a luz e a água. não olhar para trás. uma estação, ou aeroporto, ou um polegar estendido. um nome ao calhas no atlas.
cheer up, no harm is done.
 
terça-feira, março 23, 2004
 
tenho pensado muito sobre o medo- (fear)

tenho medo de fechar os olhos e, quando os abrir, já não estar cá ninguem. medo de esquecer. medo de meter medo a alguem. medo que não haja tempo. tenho pensado muito sobre a falta de tempo.
 
segunda-feira, março 22, 2004
 
(Hoje disse-te olá com a mesma tristeza que te disse adeus; não havia mais nada)

Volto à melancolia sazonal. s_azul_nal. Uma profunda tristeza que vos leva todos ao pânico. Talvez isto passe com uma habituação ao silêncio, uma carícia ao pêlo do silêncio, negro e branco, brando como um gato azul. Talvez adormeçamos um no colo do outro, este meu gato e eu, com um leve ronronar e a minha respiração pesada de cansaço e fumo. Ou lhe deixe uma malga de água e outra de comida e me despeça dele e saia pela porta fora em busca de ruído com medo de adormecer e acordar no centro da loucura.
Procuro uma pista à minha volta. A cama meio desfeita. o cinzeiro, o despertador uma hora atrasado, duas velas meiomeio gastas, uma jarra de flores murchas, dois recibos amachucados, várias pilhas de livros e fotocopias. Não me augura nada de bom este cenário. acho que o gato me comeu as velas, trocou-me as voltas, mastigou demoradamente as flores enquanto eu dormia, e ainda troçou dos meus gastos mensais. e muito pêlo por todo o lado. comichão.espirros. Acho que vou sair à procura de palavras azuis.
 
sábado, março 20, 2004
 
ok. tecnicamente é sábado. mas como ainda não dormi DORMI mais do que 3 horas (ainda há pouco, parece-me) permaneço presa num glish do continuum espaciotemporal (seja lá o que isto for)
Estou muito sobria e parei de me diverti a partir do momento em que me apercebi que esta sobriedade me iria custar mais do que qualquer outra bebedeira da minha vida. 50 euros, só mesmo uma garrafinha de Cristal (o champanhe, não a cerveja) para me sentir burguesa. Mas não senhora, nada disso. Calha a infelicidade de, nesta sexta feira morta por dentro, me ir meter numa discoteca (ora bem, já o tiquezinho consumista de hábitos burgueses interiorizados que tinha que ter a sua chapada na cara com uma luva mesmomesmo branca) e perder o cartão. não o de crédito, que não mo dão porque prezam o negócio e eu para o meu lado não sou tão confiável assim, mas aquele que às vezes varia conforme se tem, ou não, afinidades com o patriarcado no meio das pernas (isto soa mesmomesmo engraçado). Não tenho afinidades dessas em mim tantas vezes quanto as desejo, mas pronto...
não interessa se estava a dançar, se estava sóbria, se conhecia o gerente ou 90% do staff me grama. Não interessa quando se liga o piloto automático e ele fala contigo com a voz do Hal ("You're not acting accordingly, it is rational that you go home")
não interessa nada. e vim para casa mais desfalcada. lá se foi o pacto de estabilidade com as noites.
 
sexta-feira, março 19, 2004
 
"Song to the Siren" by This Mortal Coil

On the floating, shapeless oceans
I did all my best to smile
til your singing eyes and fingers
drew me loving into your eyes.

And you sang "Sail to me, sail to me;
Let me enfold you."

Here I am, here I am waiting to hold you.
Did I dream you dreamed about me?
Were you here when I was full sail?

Now my foolish boat is leaning, broken love lost on your rocks.
For you sang, "Touch me not, touch me not, come back tomorrow."
Oh my heart, oh my heart shies from the sorrow.
I'm as puzzled as a newborn child.
I'm as riddled as the tide.
Should I stand amid the breakers?
Or shall I lie with death my bride?

Hear me sing: "Swim to me, swim to me, let me enfold you."
"Here I am. Here I am, waiting to hold you."
 
quinta-feira, março 18, 2004
 
se(is)mi_ontologia

seis mil palavras
onde se encontram entrelaçadas. estremeçem na derrota. e as outras que não chegam para desculpar.
e as outras milhares que incomodam em discursos nesta voz sorrateira. e as outras dúzias que fazem falta hoje e amanhã.
e as outras brilhantes que raspam. com estas as novas e as velhas divisas. escudos.espadas.copas. paus. meios reis e rainhas a monte nas mesmas palavras.

seis mil multiplicações brutalizadas no seu ponto de viragem genética. a eva má. a serpente má. a árvore e toda a terra de nod aos pés de caim brutalizado pela maldade. as outras todas que expressam "má" quando isso existe. desfiadas de pequenos milhares de nós que acontecem por marcação.

uma só palavra adicta.conjugada.conjurada.sobe pelo braço acima, pela boca acima. seis mil fonemas amalgamados em ovo.
a brincadeira dos costumes.tocou mais um pouco. adiante. parágrafo.dois pontos.

se és mil palavras
 
terça-feira, março 16, 2004
 
Ele saiu de minha casa à uma. O corpo perfeito, a idade perfeita, o tempo perfeito para tudo. Falámos muito e falámos pouco de muito e de pouco. sabemos mais agora e não nos serve de nada. este nome saia-me naturalmente mas era outro. e eu a mesma e outra. sabe-me bem assim. já o calor era diferente. já o cheiro era diferente. há partidas e chegadas e acordos fáceis de aceitar. e de propor. há agora coisas temporárias que se resolvem com umas mezinhas e pensos rápidos. quase que dá para ver as impressões digitais. de resto, tenho sono. não dormi nada no conforto perfeito e inesperado. tenho agora que traçar as horas para trabalhar ainda com aquelas oscilações pelo corpo pela noite fora e dentro. queria mais horas para repor as necessidades adiadas. todas elas. e que nada disto foi especial dada a natureza de igualdade em que nos encontrámos. sem jogos de poder e engano. sem nada mais que hora a hora entre o abrir e o fechar de olhos, de braços e bocas e tudo. e não se sabe onde começou. no meu corpo ficaram as impressões digitais e meia fome saciada. não queria mais do que este inesperado conforto de não estar só. de não dormir. de não conseguir sonhar com mais do que esse prazer.
 
quarta-feira, março 10, 2004
 
Querida Cláudia, disseste-me uma noite que havia coisas das quais não te deixavas lembrar-te: deixa-me dar-te uma ajuda com isso...
Primeiro, bebes demais; tempos houve em que bebias mais mas fazias menos asneiras. Agora é diferente, achas que não deves nada a ninguem e podes fazer tudo sem consequências; não sei se está relacionado mas és demasiado impulsiva;
Devias lembrar-te daquele rapaz que amaste desenfreadamente até ao dia em que achaste que a cidade era demasiado pequena para ti e foste embora e o abandonaste e nunca o perdoaste por ele nunca te ter perdoado. lembra-te que ele agora está na escócia com mulher e filhos e nem se lembra que existes a não ser numa banda sonora de há muitos anos atrás. Devias lembrar-te que escrevias cartas e contos que deixavas em sítios estratégicos à espera que brotassem. Brotaram e mal te lembras do sabor dos frutos, entre a Visconde da Luz e o Clube de Montes Claros. devias também lembrar-te daquele telefonema às 11 da manhã, quando ainda mal acordada querias desesperadamente acordar e ainda não sabes se sonhaste. devias ter a coragem de apagar o email dele do messenger e o número da agenda, porque ele nunca mais vai telefonar nem sequer para te mandar à merda porque morreu. lamento dize-lo, mas é verdade.
Lembra-te tambem de uma tarde sábado em que sabe-se lá porquê já sabias que iria ser a última vez e choraste durante o orgasmo. Lembra-te que és uma romântica antes de seres uma hedonista e nunca te esqueças disso. lembra-te que o mundo é um lugar muito grande e há 100 por cento de possibilidades de nunca mais veres as pessoas que ao longo dos anos negligenciaste, embora sempre dissesses que não era bem assim. Lembra-te também, se calhar esta é a tua imperdoável falha, qual é o teu lugar. Repete muitas vezes isto.
 
 
parábola

em sonhos, apanhada num leve espirro, william golding falou comigo. A torre estava em construção e ninguem falava. o arquitecto recusava-se a dormir enquanto acrescentava andares e mais vãos e mais andares. os trabalhadores trabalhavam e já não olhavam nem para cima nem para baixo.
 
 
Poema aberto

por mão por boca
olho por olhar
palavra por silêncio
(tens prá troca?)
queria dar-te um beijo por um golo disso
ao mesmo tempo um pouco de tempo por um fuso horário e um ponto
um retalho de pele por um pouco de água
um resto de tabaco caido no saco por um bafo inteiro de corpo
uma violencia por violencia
(tens)
negras para os pulsos
vendas para os olhos
para colocar dentro
(tenho)
palavras mecânicas de uma fragilidade extrema
uma invenção de tudo que resulta às vezes em contextos
uma invencivel vontade de não estar

tarde mas nunca
me dispo mais do que isto mas
não mais simples do que isto
 
terça-feira, março 09, 2004
 
aiaiai, meus amigos e restantes, não é melancolia, é tédio, aquilo que me leva a escrever a altas horas da madrugada, às vezes insónia, também. aiaiai, são filmes, são épicos e tragédias gregas, meus amigos, aquilo frequentemente faço para me entreter.
Agora não, aiaiai, meus amigos, que tenho que dar o litro, suar as estopinhas, puxar pelos neuronios todos à chapada e ao chicote, que o tempo urge, o tempo voa e só me apetece dormir.
 
sábado, março 06, 2004
 
Coil- The dreamer is still asleep

Hush, may I ask you all for silence?
The dreamer is still asleep
May the goddess keep us from single vision
And Newton's sleep

The dreamer is still asleep
The dreamer is still asleep
He's inventing landscapes in their magnetic field
Working out a means of escape
We'll cut across the crop circles

The seer says no
Not much time left for these escape attempts
Look at it this way
In ten years' time
Who'll care? Who'll even remember?
One dies like that, deep within it
Almost inside it
It's there for a reason

I'll give you my old address
And take that little book
To tear and cut the paper

The beginning is also the end
Time defines it, time defines it
It will end
Like close friendship
Nothing could be further
We forget the space between people and things
Is empty
We forget, and don't notice the loss

Pressing into venerable degeneration
Such radiant pollution
The god with the silver hand surveys this vast contamination
The dreamer is still dreaming
The dreamer is still dreaming

In the heart of your heart
Your eye remains
Is that hurt you? Is that blister you call loveless?
Your whole life is a cold slow shock
Your whole life is a cold slow shock

Take all your time
Track the shabby shadow down
Through hissing mists of history

The dreamer is still dreaming
The dreamer is still dreaming

Hush, may I ask you all for silence?
Will he wake in time to catch the sunset?
Hush, may I ask you all for silent?
May I ask you all for silent?
 
sexta-feira, março 05, 2004
 
Artista do mês: Jean Michel Basquiat, do clube dos 27, mais conhecido na rua por SAMO. A arte está na rua. os maniacos camarários da repressão artística que se fodam. Uma parede branca é uma ofensa, principalmente se tiver sido construida por regimes absolutistas.
 
 
Registo simples

Como te dizer, se sei que não vais ler este blog? se sei que não vais entender nunca? Como te dizer que te deixei de falar e nem notaste? Como te dizer que tenho vergonha de ter confiado em ti? Assim digo a profunda mágoa com que escrevo porque já não consigo usar de mais metáforas e silencios idiotas e inuteis. Num registo simples para que entendas. Sem cinismos nem ironias. Fui usada. ultimamente usada. Apaguei todos os registos. todos. vou fingir que foi tudo um filme. com um argumento rico mas de realização pobre. com personagens mal trabalhadas e um cenário decadente. desculpa lá a metáfora cinematográfica.
para quem se preocupa tanto com os sentimentos dos outros, quem se outorga decidir o que devo ou não sentir, deve ser fácil decidir que é melhor assim. se calhar não é uma decisão mas um esquecimento maior. Se tenho que me condicionar à sina de adolescente, ainda bem que vivo intensamente. ainda bem que ainda vejo o trágico do amor e das relações inexplicáveis entre as pessoas. Já tinha aprendido a não jogar o hedonismo à cara dos piratas românticos. Já tinha visto nas mãos de um adolescente bonito um cocktail molotov. nada disto me choca, a vida é irónica e bela. digo-te isto depois de ter estado à beira da loucura, depois de saber aquilo que eventualmente viria a saber, depois de admitir que nem sempre joguei limpo, que omiti deliberadamente á espera que me dissesses, que me perguntasses, que menti em relação a identidades e animosidades. nada de grave, pequenos testes. eu gosto de repteis, tambem tenho o sangue frio, mas prefiro iguanas e até as cobras avisam quando são venenosas, e não se fazem passar por animais de estimação.
Tenho medo de algumas consequencias, mas o que é a vida sem medos?
 
 
Excessos de gente, de sons, de cheiros, de setas, de cosmos e micro-cosmos, de cores e de peles e de gestos que se multiplicam.
Excessos de informação, de frio, de micro-cosmogonias e agonias, de crises à volta de uma só rotunda, de faltas, de cobardia, de recordações e começares de novo. de novo. de novo. de despedidas. de novo. de novo. de fresco.

apenas. zeros e uns. ondas e estática. cabos dobrados. co-axiais à volta do pescoço. nao me digam mais nada. toquem no frio do monitor e sintam-me como se estivesse aí, elementar, metabolismo policromático e hipertextual. não há mais do que isto no meu mundo. apenas um profundo silencio que se estende desde o big bang.
 
segunda-feira, março 01, 2004
 
 
 
 
 
 
 
 

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