sigNature
Os moinhos são gigantes deveras... (ou Os Sonhadores)
o ritmo mudou.
mudou tudo.
já não sei o que significo.
já decidi deixar a cidade. fugir.
levo este espaço comigo, uma mala entre o pragmático e o simbólico
e mais nada.
as coisas mudam
mudam tudo.
e querendo construir destruo.
e nada será como dantes.
não sei quando volto
acesso remoto, controlo remoto,
cyber existência
hiper existência.
sangro do nariz, doi-me a cabeça
enquanto espero o fim deste mundo ficcionado
tremo enquanto busco.
há lugares onde nunca se pode ter tudo
sem arriscar perder tudo
querer tudo
ser tudo
em exaustão fácil
os pedaços caindo em fogo (ainda os vejo).
resolvam vocês
a posse, a traição, a voz, o passado, a memória, o deja vu, o calor do corpo, o toque, a rejeição, a dependência, a escravidão, a resistência, as palavras, as ruas das cidades e os espaços íntimos em que somos íntimos. os maus timings de bons tempos incestuosos.
ou o que resta de tudo isso. eu não tenho culpa. a terra gira. o coração bate. ainda.
resolvam as vossas que eu resolvo as minhas.
esta é a altura de tomar de volta e devolver.
eu só quero amar em paz.
Os gigantes não passam de moinhos...
tanto medo, tanto constrangimento, tanta distância, tanta inépcia. que sabia eu? as pessoas são apenas pessoas e eu, sabendo muito pouco, até sei lidar com elas, mesmo as mais estranhas, mesmo as mais aterrorizantes. Volta e meia descubro uma pérola na lama ou, também acontece, uma poia no palácio. desta vez fiquei mesmo contente com o achado, que eu sempre soube que lá estaria, através de um sexto sentido qualquer ou de uma qualquer ficção idealizada. e sim, estou contente e até fascinada com isso. oficializam-se cumplicidades que sempre lá estiveram, mas mantem-se os espaços e as distâncias necessárias. mas agora sabemos um do outro como se tivessemos sonhado em simultâneo ou ido ao cinema juntos.
ao que o ano acaba e as coisas ficam mais claras, a posicionarem-se para um novo arranque. algo acabou algo começou algo mudou pelo meio algo continua vazio algo continua a projectar-se para um futuro que não me permite sair desta cidade tão depressa. resta ir remodelando os seus ritmos e caminhos, toda a urbanização e os acessos.
Já que ando numa de música (
high fidelity) cá fica uma letra dos
Bush. a vida tem mesmo uma banda sonora, vá-se lá saber porquê!:
I want you to remember
A love so full it could send us all ways
I want you to surrender
All my feelings rose today
And i want you to remain
The power of children can amaze
I'll try not to complain
I know that's a pisser baby
The chemicals between us
The walls that lie between us
Lying in this bed the chemicals displaced
There is no lonelier state
Than lying in this bed
I want you to remember
Everything you said
Every driven word
Like a hammer hell to my head
The chemicals between us
The walls that lie between us
Lying in this bed the chemicals displaced
There is no lonelier face
Than lying in this bed
The chemicals between us
The chemicals between us
Lying in this bed
We're of the hollow men
We are the naked ones
We never meant you harm
Never meant you wrong
I'd like to thank
All my lovers lovers lovers lovers lovers lovers
The chemicals between us
The army of achievers
Lying in this bed
The chemicals displaced
There is no lonelier state
Than lying in this bed
The chemicals between us
The chemicals between us
Chemicals
The chemicals between us
como dá para ver pelo poema abaixo...ando num desaire de coração. desta vez as coisas podiam ter resultado, uma questão de timing ou de sei lá! somos pessoas racionais em tudo.
já soube este poema de cor (by heart, como se diz em inglês)... há muitos anos.
Had I heaven's embroidered clothes,
Enwrought with golden and silver light
Of night and light and the half-light
I would lay my clothes beneath your feet
But I being poor have only my dreams
I have laid my dreams beneath your feet
Tread softly because you tread on my dreams
W.B. Yeats
Uma musiquinha muito bonita (e romantica que doi!) dos meus estimados U2:
You say you want
Diamonds on a ring of gold
You say you want
Your story to remain untold
But all the promises we make
From the cradle to the grave
When
all I want is you
You say you’ll give me
A highway with no one on it
Treasure just to look upon it
All the riches in the night
You say you’ll give me
Eyes in a moon of blindness
A river in a time of dryness
A harbour in the tempest
But all the promises we make
From the cradle to the grave
When all I want is you
You say you want
Your love to work out right
To last with me through the night
You say you want
Diamonds on a ring of gold
Your story to remain untold
Your love not to grow cold
All the promises we break
From the cradle to the grave
When all I want is you
Em torno de rotundas, neste espaço compreendido no horário de expediente, as pessoas (essas como eu) insistem em fugir-se à felicidade. Insistem em fingir-se e em não se mover. De vez em quando arrastam (como eu) a sua revolta e as suas mágoas e os seus sonhos por cumprir num cadaverzinho verde mas muito mal amanhado, bem apanhado pelos cabelos, um corpo mole de trapos, injúrias e pedaços de corações. Sentam-se e pedem uma bica, sem ponderar que esse embrulho possa precisar de uma bebida quente, para aguentar os trambolhões lentos da viagem, e de uma outra de volta a casa. Ou se quer ficar ali mais 5 minutos, ou acidentalmente esquecido numa paragem de autocarro, ou em cima do autoclismo, como um qualquer maço de tabaco. Constantemente insatisfeitas e acomodadas em simultâneo, estas pessoas lançam as ideias como bafos em cigarros, uma sala cheia de fumo e muita febre tóxica. E a inveja dos dias e das noites secretas. E o pânico de não ser hoje. E o pânico de ser de facto hoje. E mais um cigarro e um toque macio no cadaverzinho verde. E um copo de água para magnetizar.
Às vezes as mesas ficam cheias, e cheias de ruído, cada um falando com ou acerca do seu cativo verde, como de um cão ou um gato. E assoma-me a piedade, mas nunca sei de quem. Talvez dos cães e gatos deste mundo. Histórias por camadas, como um bolo prestes a entregar uma fatia à posteridade, mas cujo recheio, aquela coisa entre as várias camadas, fede a bílis e à mais pura cobardia. E cada dia a mais ele não se revela nem se ingere. Apenas espera o fim do turno. E não há uma comissão de enteados verdes, um sindicato para estas indefesas criaturas que se vêem arrastadas pelos cabelos para a rua. Não há um único e imenso hino revolucionário que os incite à revolta, uma canção de ruído e grito amargo, um quadro todo negro como uma janela, uma massa de barro branco para calcar as impressões dos dedos moles. Não há uma inspiração para estes monos de museu, um catre para o descanso dos injustos e dos injustiçados. Só um verdete enjoado e mole na cadeira mal ajeitada perto da memória, sem olhos para ir contando os minutos da ida, sem esperança mais do que o fim do turno. Sabendo que nenhum se lhes compara, que são únicos e inacessíveis, invencíveis sem casca, pelo tempo com todo o tempo do mundo. Habitam toscos na miséria dos vivos que riem desconsolados, entre a insatisfação e o comodismo.
as sirenes mudas
de dentro das mãos e dos olhos revolve-se o demónio
dentro do peito e do ventre intactos
e a memória revolve-se também
e resolve-se dorida debaixo da terra húmida.
Já não sentimos a voz
e não sentimos os dias nem as noites
apenas um coagular debaixo da pele de coisas que nos disseram
que nunca iriam acontecer
já não tocamos a verdade nem ela nunca nos tocou
e ainda há uma febre e ainda há uma outra vertigem mais perto
já não sabemos
o povo já não entra nem sai. a manhã não compromete