sigNature
estou muito triste esta noite. está frio e o meu coração gela a cada minuto. tenho os olhos inchados e não sei porque é que chorei. confundo muitas vezes raiva com outras coisas que não sei bem o quê. não espero respostas simples mas também não (me) faço perguntas simples. até o ronronar da gata me arranha as ausências. há noites assim, com os fantasmas todos congregados à beira da cama por fazer. e os mal entendidos à mesa de cabeceira. há noites assim, em que bate tudo de uma vez só, em que as palavras ou são demais ou são de menos, em que os sentimentos vão ter que ser amputados porque o sangue já neles não circula. há noites assim para haver manhãs como aquelas que virão daqui a pouco lavar-me a cara devagar mas sem tempo.
Os eus e os outros
Numa mão cheia encontro as violências auditivas e as movimentações do corpo, os nomes trocados e uma escuridão pequena, os silêncios incómodos e os acomodados, encontro várias temperaturas e falos de vários tamanhos, encontro várias texturas e jogos, muitos jogos, a olhar para o céu do palácio de cristal, numa ternura de cansaços e planos de começar de novo e continuar viagem. numa mão cheia de dedos que contaram dias e meses e semanas e contaram histórias e mentiras e perdas e somaram e subtraíram e pediram segredo, numa mão só que se encontra algures tímida num bolso escavado perto do ventre que pede, perto da periferia do vício, perto da negação do tempo, perto da trincheira da vontade, perto da convicção inteira da mais absoluta necessidade. Numa mão fechada ao público, mas que sabe os caminhos da dor e do prazer, pequena mas rápida, multiplicada pelo seu negativo.
Jackson Pollock, The She Wolf (c. 1943)
Wolf-Alice
Could this ragged girl with brindled lugs have spoken like we do she would have called herself a wolf, but she cannot speak, although she
howls because she is lonely -- yet `howl' is not the right word for it, since she is young enough to make the noise that pups do, bubbling,
delicious, like that of a panful of fat on the fire. Sometimes the sharp ears of her foster kindred hear her across the irreparable gulf of
absence; they answer her from faraway pine forest and the bald mountain rim. Their counterpoint crosses and criss-crosses the night
sky; they are trying to talk to her but they cannot do so because she does not understand their language even if she knows how to use it
for she is not a wolf herself, although suckled by wolves.
Her panting tongue hangs out; her red lips are thick and fresh. Her legs are long, lean and muscular. Her elbows, hands and knees are
thickly callused because she always runs on all fours. She never walks; she trots or gallops. Her pace is not our pace.
(...)She can net so much more of the world than we can through the fine, hairy, sensitive filters of her
nostrils that her poor eyesight does not trouble her. Her nose is sharper by night than our eyes are by day so it is the night she prefers, when
the cool reflected light of the moon does not make her eyes smart and draws out the various fragrances from the woodland where she wanders when she can.
(extract), Angela Carter
abertos aos gomos ficam os olhos insanos
em tanta cor e em tanto sumo
ficam as mãos descansadas sobre a face
e outras sobre as pernas beijadas
não dizemos adormecer
não dizemos que sacudimos o pó do parapeito
enquanto a manhã não entra enquanto esquecemos
e ficam as mãos seguras aos rasgos de fruta
e ficam as mãos laçadas
e
ficam os dedos bebidos
quem comenta, seu mal espenta (afugenta)!!!!
rendi-me ao feedback...aiai não sejam mauzinh@s nos comentários. e vou voltar a postar imagens. ele é conforme...
repararam que não há referencia à quadra???? não há. não há. não vai haver.
"pyrite of the heart"
há uma substância que parece ouro e não é. chamam-lhe "o ouro dos tolos". é bonita, brilha e dá para enfeitar, mas é mais vulgar e não tão resistente ou trabalhavel como o ouro-ouro.
há cada vez mais coisas que não percebo, e isto da pirite não tem nada a ver com isso. apenas ando a juntar informação e a tentar traçar uma "anomaly theory", entre as várias linguagens do dia, das quais aquela em inglês é do alan moore, esse místico-poeta-contador de histórias-urbano.
as coisas que não percebo revelam fragilidades que não percebo e também não percebo de onde vem a mais profunda arrogância e desprezo que sinto contemplando-as.
estas coisas tinham nome de conforto, aceitação, honestidade, carinho verdadeiro. agora são anónimas e deixam de me comover para irem morrer numa praia qualquer (como Pasolini e o seu assassino). antes ainda me conseguia emocionar com as questiúnculas quotidianas, atribuia-lhes um qualquer vínculo literário, poético, erótico, exclusivo, transformando-as numa alquimia infantil...agora bocejo e enfado-me com aquilo que são ficções novelescas e baratas, ou mega-produções sem conteúdo nenhum.
assim vai o meu mundo. com algumas coisas (outras) que ainda não sei bem encaixar, mas que mexem cá dentro com tudo o que é vivo nas entranhas do desejo da aventura da preversão da inocência.
será que caí outra vez no encantamento da pirite? ou um outro abismo ainda mais (ainda mais?) fundo.
não perca o próximo episódio..........................................................
"gone baby gone
baby burn bye and bygones are bygones
by the way no way to go no way to say
goodbye or bad-bye or going away
is not the way the easy the throughway and the freeway and the
highway and bye way
no baby no way my baby's gone and you were never."
"estou cansada", pensei eu no momento auge de uma festa, sem um tusto no bolso, com a cabeça a girar. cansada de circular por aí sem querer ir para casa e ansiando ir para qualquer conforto caseiro. pensei que já chegava, que o sentido de tudo aquilo já não fazia sentido para mim a sentir-me ficar velha a ver-me beijar um rapaz de vinte anos a ver-me sem cigarros a ver a vista para a cidade maravilhosa. a alice acordou à beira do lago e voltou para dentro dando um pontapé no baralho de cartas. este tempo de calendário roto. este tempo de caprichos e de falsas esperanças. sentir a beleza dos homens e também das mulheres que se tocam com ternura e sorriem para o espaço no meio. sentir essa beleza e os meus dedos frios nos bolsos do casaco vazio. tomem conta de mim, hoje, que eu não consigo mais. fechar os olhos contra a parede e descobrir de onde vêm tantas nódoas negras, e como desaparecem logo a seguir, como dedadas de carvão e cinza. e ver toda a importância das palavras repetidas tantas vezes a tanta gente. e eu mais uma tola. e eu mais uma.
SOBER
(Não me consigo levantar da cama a horas decentes. algures entre o pesadelo e o sonho cor de rosa o corpo não reage a mais do que a necessidades básicas. consigo ver-me e não tenho grande orgulho no martírio de uma enorme teia que deixei que aqui construissem. mais um dia no grande trilho de uma auto-destruição interior. são todas as outras substancias tóxicas, todas com nome e gesto, que demoram mais tempo a sair do sangue, se é que saem alguma vez deste circuito fechado.
leio, escrevo às vezes, ouço música que me tira e me devolve imagens e me dá palavras às vezes e mas devolve noutras datas. entre o críptico e a lucidez, entre a entrega e a imensa reclusão do corpo e da alma. estes sonhos não os consigo contar:)
maybe
flash and flame and ashes and crashes
maybe the soft aspiring word like smoke beneath the fingers
again like your hair over my breasts maybe a remote earthquake
maybe a nod or just like the difference in temperature again
in and out.
maybe unsaid or foreseen, maybe intruding again, maybe because
so easy like another side not yet told to every story, or any at all,
at the whole.
maybe it is just the most loving mouth that lies, soft and without any consideration
what so ever
for others' love and lust and hate and hurt
or just a well kept secret that my body hides once again
jealousy and contempt and possession and spice and spice
and one drop of very salty sweat running up and down the spine.
A moda de compaixão e de penitência num canto escuro de descobrimento. à moda de boa intenção e de desejo reciclado e de uma soberba momentânea. à moda de uma contemplação clandestina de uma mancha negra num quadro branco num quarto à moda da meia-luz da madrugada. à moda de uma susceptibilidade enfraquecida, de poucas convicções e de uma longa mentira à moda de promessa. à moda de gavetas mal fechadas e de frases mal construidas, de palavras curtas de memória curta, de voltas e voltas de procura numa arena, de um sorriso de chegada, de um sorriso de partida.
assim o ser se vai encolhendo na temperatura, na aridez desconexa e na vitalidade de um passado longo de um futuro longo. tudo isto numa figura geométrica como um monstro cubista. tudo isto com um arrepio na pele como uma pelagem verdadeira. tudo isto assim num dia depois do outro em que as pessoas se unem pelos ritmos químicos como intensos segredos ou dogmas maníacos. assim o ser vai sendo, vendo a cabana a construir o lobo mau, vendo o fumo a construir o auto-de-fé, vendo a miragem contruir o deserto e a própria sede. e a sede. e a imensa sede... como não deixar a língua deslizar para recolher o conhecido cheiro e a invísivel gota de suor? como não beber se a sede é tanta? o corpo tomado em memória do mesmo corpo, como um pequeno livro de horas e misérias. assim o ser vai lendo os soluçados capítulos, em busca do graal, em busca de vingança, em busca do assassino, em busca do pai ou da mãe há muito perdidos, em busca da chave, da justiça, de uma resposta, do conhecimento de uma narrativa aberta. na busca do fim o ser se vai enrolando no canto das páginas, sublinhando-se na real metáfora das ideias. não há tudo isto como uma conta certa. não há tudo isto como um número redondo, uma simetria, uma ritualizada dimensão serena. não há tudo isto na imensa biblioteca do corpo, uma alexandria suspensa como um farol de pirâmide. é a sede, e a fome, e o descanso morno em cima de um braço sem pinga de sangue.